A Revolução da Energia Limpa na Etiópia: Mobilidade Elétrica, Novas Tecnologias Sustentáveis e Benefícios para a População

Introdução

A Etiópia, país localizado no chamado “Chifre da África”, tem se consolidado como uma referência surpreendente em energia limpa e políticas de mobilidade sustentável. Embora ainda enfrente desafios sociais e econômicos, a nação tem mostrado uma visão ousada para transformar sua matriz energética e reduzir drasticamente a dependência de combustíveis fósseis.

Em janeiro de 2024, o país chamou a atenção do mundo ao se tornar o primeiro a proibir a importação de veículos movidos a gasolina e diesel, uma medida revolucionária que impulsionou a adoção de veículos elétricos (EVs) em ritmo sem precedentes no continente africano. Ao mesmo tempo, grandes investimentos em hidrelétricas, energia solar, eólica, geotérmica e até usinas que transformam lixo em eletricidade mostram que a Etiópia leva a sério sua meta de transição energética.

Neste artigo, você vai entender como esse movimento está transformando a vida da população, quais tecnologias sustentáveis estão sendo aplicadas, como cresce o mercado de veículos elétricos e quais benefícios sociais e ambientais já são sentidos.

1. O Contexto Energético da Etiópia

A Etiópia sempre foi dependente de importações de petróleo e combustíveis fósseis, o que representava uma enorme pressão sobre a balança comercial. Em 2023, o gasto anual com importação de combustíveis ultrapassou 6 bilhões de euros, valor considerado insustentável para um país em desenvolvimento.

Ao mesmo tempo, a Etiópia tem um dos maiores potenciais de energia renovável da África: rios caudalosos, abundância de sol e vento, além de áreas com potencial geotérmico. Esse conjunto de recursos naturais incentivou o governo a adotar uma política agressiva de diversificação energética.

Hoje, cerca de 90% da energia elétrica consumida no país vem de fontes renováveis, sobretudo hidrelétricas. Mas para reduzir a vulnerabilidade às secas e mudanças climáticas, o país investe também em solar, eólica e geotermia.

2. A Revolução da Mobilidade Elétrica

2.1 A Proibição de Carros a Combustão

Quando a Etiópia proibiu a importação de veículos movidos a gasolina e diesel em 2024, a decisão foi vista como ousada e até polêmica. Muitos questionaram a capacidade do país em sustentar uma frota elétrica, considerando os desafios de infraestrutura.

Porém, a medida trouxe resultados imediatos: a frota de EVs cresceu de cerca de 4.600 veículos em 2023 para mais de 100 mil em 2024, e o governo projeta alcançar meio milhão de elétricos até 2030.

2.2 Incentivos Governamentais

Para impulsionar a transição, o governo reduziu drasticamente as tarifas de importação de veículos elétricos: enquanto carros a combustão tinham taxas que variavam de 100% a 300%, os EVs pagam apenas 15%. Além disso, kits de montagem local têm alíquotas ainda menores, incentivando a indústria nacional.

2.3 Marcas e Montadoras Presentes

A BYD (Build Your Dreams), gigante chinesa, é uma das principais fornecedoras de veículos elétricos no país, com modelos como o compacto Seagull. Outras empresas internacionais também começam a enxergar oportunidades de mercado, enquanto montadoras locais, como a Marathon Motors Engineering, já iniciaram a montagem de EVs em parceria com a Hyundai.

3. Benefícios Diretos para a População

3.1 Economia de Custos

A substituição de carros a combustão por elétricos trouxe alívio financeiro aos motoristas. Sem filas em postos de gasolina e com energia muito mais barata, o custo por quilômetro rodado caiu significativamente.

Um exemplo prático: enquanto o abastecimento de um carro a combustão podia consumir parte relevante da renda mensal de uma família, carregar um veículo elétrico em casa sai por uma fração desse valor.

3.2 Qualidade do Ar e Saúde Pública

Adis Abeba, capital do país, sofria com altos índices de poluição atmosférica, causados principalmente por veículos antigos e ônibus movidos a diesel. A chegada dos elétricos reduziu a emissão de gases nocivos, melhorando a qualidade do ar e reduzindo casos de doenças respiratórias.

3.3 Novos Empregos e Desenvolvimento Local

O crescimento da frota elétrica criou novas oportunidades de trabalho em setores como:

  • Importação e venda de veículos.
  • Instalação e manutenção de estações de carregamento.
  • Oficinas especializadas em tecnologia elétrica.
  • Capacitação de engenheiros e técnicos em mobilidade sustentável.

Além disso, empresas locais como a Green Tech Ethiopia têm investido na popularização dos elétricos, oferecendo crédito acessível e financiamentos para famílias de renda média.

4. As Bases da Energia Limpa: Hidrelétricas e Mais

4.1 Hidrelétricas: Orgulho Nacional

O Grand Ethiopian Renaissance Dam (GERD) é o maior projeto de infraestrutura do país, com capacidade prevista para gerar mais de 6.000 MW quando estiver totalmente operacional. Outras usinas como Genale Dawa III já fornecem centenas de megawatts para a rede.

4.2 Energia Solar e Eólica

A Etiópia recebe entre 5 e 7 kWh/m² de energia solar por dia, o que a torna ideal para grandes plantas fotovoltaicas. Projetos apoiados pelo Banco Mundial, como o Scaling Solar, já estão em andamento.

Parques eólicos, como o Assela Wind Power Station, com capacidade de 100 MW, também diversificam a matriz.

4.3 Geotermia e Resíduos

O projeto Tulu Moye Geothermal, em construção, deve adicionar 50 MW inicialmente, com potencial para triplicar. Já em Adis Abeba, a usina Reppie transforma resíduos urbanos em 25 MW de energia, um exemplo único no continente.

5. Os Desafios da Transição Energética

5.1 Infraestrutura Limitada

Apesar dos avanços, a Etiópia ainda conta com poucas estações públicas de carregamento rápido, e muitas regiões sofrem com quedas de energia.

5.2 Custo Elevado dos Veículos

Mesmo com redução de tarifas, o preço de um EV ainda é alto para a maioria da população: entre US$ 16.000 e US$ 35.000, dependendo do modelo.

5.3 Disparidade Urbano-Rural

Enquanto Adis Abeba lidera a transição, áreas rurais — onde vive a maioria da população — ainda têm acesso limitado à eletricidade e não conseguem participar plenamente dessa revolução.

O governo etíope planeja integrar a expansão da mobilidade elétrica com sua capacidade crescente de gerar energia limpa. Há planos para:

  • Instalar centenas de estações de carregamento rápido em rodovias e cidades.
  • Incentivar ônibus e caminhões elétricos, visando transporte público sustentável.
  • Expandir a eletrificação rural para incluir mini-redes solares e híbridas, garantindo acesso à energia para milhões de pessoas.
  • Tornar-se um exportador de energia renovável para países vizinhos, consolidando sua liderança no continente.

Conclusão

A Etiópia se tornou exemplo mundial ao adotar políticas energéticas ousadas, investindo em mobilidade elétrica e fontes renováveis. A proibição de veículos a combustão, combinada com incentivos fiscais e grandes obras de infraestrutura, posiciona o país como protagonista na luta contra as mudanças climáticas.

Mais do que um projeto ambiental, essa revolução traz benefícios palpáveis para a população: redução de custos, melhor qualidade do ar, novos empregos e esperança de um futuro sustentável.

Ainda há muitos desafios — infraestrutura, custos e desigualdade regional —, mas a jornada da Etiópia prova que a transição para energia limpa não é apenas possível, mas também benéfica em todas as esferas da sociedade.

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