1. Panorama atual da energia no Nepal
O Nepal, conhecido por seus picos imponentes e rios caudalosos, está traçando um caminho ambicioso rumo à sustentabilidade energética. Embora historicamente dependente da biomassa e da importação de combustíveis, o país já alcança uma eletrificação de cerca de 86% da população, com a eletricidade ainda aquém da média asiática em consumo per capita The Guardian+10gggi.org+10The Independent+10.
A matriz energética é dominada por hidrelétricas, responsáveis por aproximadamente 94% da capacidade instalada e mais de 96% da energia gerada New Business Age. Contudo, esse modelo apresenta fragilidades — especialmente diante das mudanças climáticas, que afetam a regularidade hídrica The Independent.
Para reduzir o risco e diversificar, o país tem investido em projetos solares, ações com hidrelétricas de armazenamento e agora também explorando hidrogênio verde, movimentando uma aceleração na transição energética.
2. Hidrelétricas: base forte, mas vulnerável
2.1 Grandes usinas em operação
O Upper Tamakoshi, com 456 MW, é atualmente a maior hidrelétrica em operação, fornecendo mais de dois terços da capacidade de geração nacional Wikipedia+4Wikipedia+4Conselho Global do Carbono+4. Outro destaque é o projeto Upper Marsyangdi (run-of-river) com 50 MW, gerando cerca de 317 620 MWh/ano e evitando 92 109 toneladas de CO₂ por ano Wikipedia+6Conselho Global do Carbono+6urjakhabar.com+6.
2.2 Projetos em construção e planejados
- Arun III (900 MW), em construção, será um dos maiores do Sul da Ásia. Estima-se que ele gere cerca de 4.018 GWh/ano e crie cerca de 3.000 empregos. O acordo prevê que 21,9% da energia produzida seja fornecida gratuitamente ao Nepal durante os primeiros 30 anos Wikipedia.
- O Budhi Gandaki, previsto com 1.200 MW, será o maior do país, com uma barragem de 225 metros e geração anual estimada em 3.383 GWh Wikipedia.
Esse portfólio demonstra ambição e capacidade técnico-financeira para elevar a produção e o impacto econômico a médio e longo prazo.
3. Energia solar em expansão
Para diversificar a matriz, o Nepal lançou um compromisso firme: gerar até 2.100 MW de energia solar até 2030 myrepublica.nagariknetwork.com.
Um dos projetos principais é a parceria entre o Golyan Group e a Prozeal Green Energy, totalizando 170 MW distribuídos em oito locais em distritos como Kanchanpur, Banke e Kapilvastu New Business Age+8Renewables Now+8Wikipedia+8. A Golyan Group possui ainda planos para gerar 900 MW combinados de solar e hidrelétrica até 2030, incluindo projetos como o Pure Energy (20 MW já em operação em Banke) Wikipedia.
Outro exemplo relevante é a Mithila 2 Solar PV, com 10 MW, construída no distrito de Dhanusha e conectada à rede nacional Wikipedia+1.
Contudo, desafios como escassez de terrenos planos, limitações no investimento em infraestrutura de transmissão e armazenamento ainda limitam o pleno aproveitamento do potencial solar myrepublica.nagariknetwork.com.
4. Hidrogênio verde: nova fronteira energética
Recentemente, o governo nepalês assinou um memorando de entendimento (MoU) com a sul-coreana G-Philos para viabilizar um estudo de viabilidade de uma usina de hidrogênio verde e célula de combustível no Nepal, com investimento estimado em Rs. 6,8 bilhões, no modelo público-privado risingnepaldaily.com+1. Esse avanço coloca o país na rota das tecnologias emergentes de descarbonização, com implicações positivas para setores industriais, agrícolas e de transporte.
Além disso, uma roadmap para hidrogênio verde traçado pelo GGGI projeta substituir até 25% do uso de carvão e 20% de diesel, além de reduzir em 60% as importações de fertilizantes até 2050 e criar entre 27.000 e 54.000 empregos verdes gggi.org.
5. Mobilidade elétrica: Nova fase urbana
O setor de transporte em áreas urbanas também está mudando. Em Kathmandu, mais de 70% dos veículos de passeio importados no último ano foram elétricos, um salto comparado aos apenas 250 veículos em 2020–2021 The Guardian. O governo estabeleceu metas ousadas: até 2030, 90% dos veículos privados e 60% dos públicos devem ser elétricos The Guardian.
Além disso, o país iniciou as primeiras exportações de energia elétrica: atualmente, envia 40 MW para Bangladesh e 80 MW para o estado indiano de Bihar, via rede indiana Wikipedia+4Reuters+4urjakhabar.com+4.
A exportação faz parte de uma estratégia maior, especialmente com empresas como a SJVN construindo a usina Arun-III e preparando infraestrutura de transmissão para ampliar as trocas energéticas na região Reuters+1.
6. Governança, políticas e desafios
6.1 Planejamento nacional e metas claras
O plano NDC 3.0 do Nepal projeta um salto da capacidade elétrica atual (~3.500 MW em 2025) para 14.031 MW até 2030, e 28.500 MW até 2035, incluindo entre 10% e 15% de fontes como solar, eólica, micro-hídricos e bioenergia myrepublica.nagariknetwork.com.
Há ainda uma meta de 1.100% de eletrificação total, elevando o consumo per capita para 700 kWh até 2028–29 e 1.500 kWh até 2030 kathmandupost.com. O governo alocou recursos para promover energias alternativas (Rs. 2.33 bilhões) e expansão de redes de transmissão (Rs. 13.18 bilhões) risingnepaldaily.com.
6.2 Financiamento e participação do setor privado
O programa NREP, em vigor até março de 2025, buscou mobilizar investimento privado para energias distribuídas sustentáveis (DSE) dai.com+1. Ainda assim, para alcançar as metas, será necessário escalar programas como esse e atrair recursos internacionais.
6.3 Riscos socioambientais e climáticos
Projetos hidrelétricos têm impactos e exigem atenção: atualmente, existem 81 projetos em operação, 180 em construção e 311 em fase de licenciamento, muitos nas áreas tradicionais de povos indígenas iwgia.org.
Além disso, a forte dependência do hidropower torna o setor vulnerável a inundações, derretimento de geleiras e variabilidade climática na região do Himalaia The Independent+1.
6.4 Infraestrutura e diversificação ainda insuficientes
Apesar dos avanços, as redes de transporte, armazenamento e transmissão ainda são deficitárias. A falta de infraestrutura restritiva impede que os beneficiários rurais, por exemplo, acessem plenamente as novas fontes renováveis, e limita o potencial de exportação em escala Wikipediamyrepublica.nagariknetwork.com.
7. Perspectivas futuras e percursoras de mudança
Com projetos como Arun III, diversificação com solar e o hidrogênio verde no horizonte, o Nepal está traçando uma trajetória para se tornar um hub regional de energia limpa.
Se alcançadas, as metas de geração — com destaque para hidrelétrica expandida, solar expressiva, mobilidade elétrica, hidrogênio e exportações robustas — poderão transformar o país em modelo de transição energética resiliente.
A integração com parceiros internacionais, o investimento público-privado e o equilíbrio com as comunidades locais serão determinantes nos próximos anos.
Conclusão
O Nepal está em um ponto decisivo de sua trajetória energética. Com uma matriz historicamente dominada pela hidrelétrica, agora aberta para solar, eólica, hidrogênio verde e veículos elétricos, o país avança com políticas ambiciosas. Alcançar 100% renovável até 2050, fortalecer a energia doméstica e se tornar exportador relevante são movimentos em curso.
Ainda há desafios: mudanças climáticas, infraestrutura deficiente, participação indígena e necessidade de capital serão obstáculos a enfrentar.
Mas, em essência, o país mostra ser um laboratório real de como nações montanhesas podem liderar a revolução energética global — com inovação, recursos naturais abundantes e visão estratégica.